O Regresso

Em um cenário desolado, onde o eco dos canhões da Primeira Guerra Mundial ainda reverberava, um soldado solitário chamado Heinrich trilhava seu caminho de volta ao lar, que se erguia como um farol de esperança em meio à tempestade da brutalidade da guerra. Esse conflito desumano, que o envolveu por anos intermináveis, deixara cicatrizes profundas e indeléveis em sua alma, marcadas pelo peso da violência e da tragédia. O sol poente, cansado de testemunhar o desfile incessante da morte, projetava sombras longas e sombrias sobre o caminho empoeirado, enquanto o vento sussurrava relatos de perdas inomináveis em seus ouvidos.

Ao alcançar o limiar de sua casa, Heinrich deparou-se com uma cena desconcertante. Em vez da acolhida calorosa que imaginara durante anos nas trincheiras e campos de batalha, sua família estava envolta em luto. Trajavam vestes escuras, seus rostos marcados pela tristeza que parecia transcender o tempo. Talvez fosse o choque de vê-lo vivo após tanto tempo, ou talvez a tristeza, que se enraizou nas fundações de suas vidas durante a guerra, tenha transformado a alegria esperada em um pesar silencioso.

Com a chegada do crepúsculo, um carro fúnebre chamado Helmut emergiu do horizonte, lançando uma sombra adicional sobre Heinrich e sua família. Observou, perplexo e atordoado, enquanto um caixão era retirado cuidadosamente do veículo. Curioso e horrorizado, aproximou-se da cena que desdobrava-se diante de seus olhos, enquanto um fotógrafo chamado Klaus se preparava para capturar a dor eternamente.

Ao olhar para o caixão, um grito silencioso ecoou na mente de Heinrich. Lá, em um sono eterno, repousava sua filha mais nova, agora chamada Greta. Seu corpo pálido e imóvel era uma cruel testemunha do preço que a guerra havia cobrado. Desabou no chão, as lágrimas misturando-se à poeira da estrada, entregue a um pranto angustiante que ecoava não apenas pela perda de uma vida, mas pela perda da inocência que a guerra havia despojado.

Em meio à escuridão da noite, um toque suave em sua cabeça foi acompanhado por uma voz suave e familiar: “Papai, estava com saudades.” Heinrich ergueu os olhos lentamente, e lá estava ela, Greta, sua filhinha, viva e sorridente. Seus olhares se encontraram, e naquele momento, Heinrich compreendeu a terrível verdade. Ele estava morto. O dia que imaginara como um retorno triunfante revelou-se como o dia de seu próprio funeral.

Agora, Heinrich integrava silenciosamente o reino dos mortos, um observador impotente do luto que envolvia sua família. Além da dor da partida, compreendeu que a guerra não apenas ceifara vidas, mas também despedaçara os laços que tornavam a vida significativa. Através da tristeza e da desolação, ele percebeu que sua ausência não era apenas física, mas uma lacuna profunda que a guerra havia esculpido na tessitura de sua existência.

Autor: Everson Silva.

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