Cicatrizes Invisíveis, Asas Inquebráveis

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Em meio às sombras de uma realidade áspera e cruel, existia um menino de oito anos, chamado Miguel. Sua existência, permeada pela dureza materna, era um reflexo das feridas não cicatrizadas que assombravam sua mãe, Maria. Uma mulher cuja infância fora marcada pela tirania de uma madrasta implacável e cujo casamento se tornara um palco de violência física. 

Maria, amargurada pelo passado, descontava a fúria acumulada em seu filho, Miguel. Cada passo em falso do garoto resultava em castigos impiedosos, físicos e emocionais. Contudo, Miguel encontrava consolo em um refúgio improvável: um antigo armário de máquina de costura, onde a máquina já não existia, mas repleto de um universo paralelo.

Naquele confinado espaço, Miguel cerrava os olhos e, com uma magia interna, transportava-se para um mundo onde a força era sua aliada, onde ele se tornava o herói invulnerável. Lá, ele escapava das agruras do mundo real, flutuando acima das tormentas que assolavam sua vida.

Num dia em que a fúria de Maria se manifestou de maneira intensa, Miguel, mais do que nunca, evitava atrair a atenção materna. No entanto, um simples copo de leite derramado tornou-se o catalisador para uma torrente de violência inimaginável. Maria ultrapassou os limites já estabelecidos, desferindo golpes que iam além da noção de correção.

Desnorteado, machucado e quase sem forças, Miguel rastejou até seu santuário no antigo armário. Ali, ele esperou pacientemente, como fazia habitualmente, pela transição para seu reino imaginário de paz. Contudo, algo havia mudado. O portal para sua utopia interior parecia relutar em se abrir.

Após uma demora torturante, Miguel conseguiu adentrar seu mundo de sonhos, mas algo não estava certo. O tempo lá se desdobrava de forma peculiar. Enquanto deslizava pelas asas da invencibilidade, percebeu que o retorno à realidade não se impunha como de costume.

Enquanto o pequeno herói flutuava eternamente em sua redenção imaginária, Maria despertou da embriaguez e, ao buscar por Miguel, deparou-se com o corpo torturado, já sem vida, no interior do antigo armário. O desespero inundou seu ser, e as lágrimas que derramou não podiam apagar a culpa que agora a assombrava.

Miguel, libertado das correntes físicas e emocionais, permanecia nas alturas. Naquele lugar de paz, as asas do menino continuavam a se espalhar, proporcionando-lhe uma serenidade eterna, um refúgio imortal além das amarras terrenas. Enquanto isso, Maria enfrentava as consequências de seus atos, lamentando a perda irremediável do filho cuja paz só foi alcançada nos confins de outro mundo.

Autor: Everson Silva.

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